quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Muita lição pra pouca moral


 Se você prestar atenção, há de concordar: quem mais tem lição, nenhum exemplo pode dar. Se você prestar atenção, tem sempre alguém a falar, com recomendação demais pra gente captar.
E a gente vai vivendo apesar de tanta língua. Convivendo com muita lição pra pouca moral, com pouca razão pra muito dono, com muita boca pra pouco ouvido, com pouca cabeça pra muita sentença. É, o mundo segue recheado de papagaio mal informado.

domingo, 16 de outubro de 2011

Pra não deixar a bruxinha cair no esquecimento...


Eu ainda estava percebendo a bruxa que me habitava, quando conheci, no meu trabalho, uma bruxinha já muito assumida. A digital estava lá, um pouco acima da boca. Um sinal-verruga lindo, daqueles que a gente tenta imitar com maquiagem.
Pouco tempo depois de conhecê-la, em um papo na recepção, escutei a gargalhada típica. Mais alta e forte que a minha. De bruxa, na certa. Depois, com o dia a dia, a amizade foi se fortalecendo e eu fui vendo os sinais mais importantes: a personalidade forte, a vontade de voar, o amor pela lua cheia, por tudo mais que for cheio também: coração, abraço...

Em sua mesa de trabalho, uma bruxinha de biscuit, que estava por alí sobrando e ela tascou para si, como um porta retrato de executiva. Com tantos sinais aparentes, eu não tive outra opção. Inseri seu nome na minha lista de amigas que se pode contar pra tudo, principalmente pra falar da vida como ela é, pra falar da vida como a gente quer que ela seja, com tudo de bom e de ruim. Então, na minha lista de amigas pra sempre tem mais um bruxinha que encanta. O seu nome? Calanta!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A campainha e a companhia



Morando em uma casa com mais seis pessoas, os momentos de solidão são como presentes inesperados e muito úteis. Como aquelas coisas que você coloca na sua lista de aquisições, mas que acaba ganhando antes mesmo de comprar. São como aqueles brinquedos novos da infância que você tem medo que um amiguinho venha a quebrar.

Vez por outra, ao ganhar esses presentes, eu me sinto medrosa. Tenho medo dos sons das coisas que anunciam pessoas. Temo o tic-tac do relógio dizendo que o tempo passa logo e pode trazer todo mundo de volta. Tenho medo do toque do telefone... que alguém ligue e se faça presente, mesmo sem estar, roubando minha solidão. Mas, mais que tudo, eu temo ouvir a campainha. É ela que faz os meus medos se tornarem reais. É ela que me tira de mim.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Trecho de "Carta ao meu amigo paparazzi"

... E foi quando eu achei que o último grito da tecnologia usada por você para invadir a minha privacidade fosse o Orkut, veio você com o Iphone e o Facebook com todas aquelas marcações... Mas nada, acredite, nada disso é pior do que a sua falta de preocupação comigo e de você nem sequer fazer um leve tratamento de imagem.

É por causa de você, paparazzi amador e multifacetado, que eu estou em todas, querendo ou não! Eu estou na Caras, na Quem e na Contigo. Caras de qualquer jeito, com boca aberta e olho fechado. Caras de bêbada, de doida, aparecendo Contigo, com eles, com todos, sozinha e em todas as redes sociais, clicada em eventos para os quais eu nem lembro que fui. Muitas vezes eu nem sei Quem comentou ou Quem curtiu minhas fotos, mas eu estou em todas.

A você, meu amigo paparazzi, que está sempre de plantão:
- Por favor, em rede social, não!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Overdose de casamento



O meu sábado foi recheado de casamentos. Das 7:30h da manhã, quando acordei para a primeira festa, até as 3h da madrugada, horário do fim da segunda...

As duas festas foram lindas, cada uma a seu modo, mas... quando eu já acreditava que em casamento tudo é sempre igual, veio a única variável que fica fora do controle dos noivos: os convidados. Definitivamente, existem pessoas que parecem querer acabar com a elegância de uma festa.

No banco da igreja do enlace noturno, durante o tempo de atraso da noiva, eu pude analisar um pouco da loucura do mundo que desfilava alí em várias versões: moda trash e fora de moda.

Primeiro, uma jovem mãe tentava fazer com que seus dois filhos pequenos comportassem-se como adultos, sentados e educados, cumprimentando a todos com olhares gentis e acenos breves. (Ora mais, se nem eu, do alto dos meus 30, tenho paciência para isso!). De forma bastante grossa e com olhar furioso, ela tentava fazer o que eu e meu namorado já estávamos sutilmente fazendo, acalmar os pimpolhos. Ela interrompeu tudo e fez tudo errado. Arrastou as crianças de um modo bem antigo pra fora da igreja e eu, que não sou mãe de gente mas estava distante da situação, pude fazer a tal crítica própria de quem não se envolve emocionalmente.

No mesmo banco, pouco tempo depois, sentava uma conhecida minha de muito tempo. Iniciei um papo cordial, por achar que, depois de tantos anos, poderia ter havido alguma evolução naquela mente que eu já achava estranha. Que nada!!! O papo, que começou amistoso, foi se transformando em uma contagem de fatos alheios a nós duas. Quem casou com quem, quantos estão solteiros, quantos noivos e namorando... quem é moço velho (com 30 anos). Até no caritó ela falou... Alguém lembra do caritó? (Realidade, eu nem tinha me apercebido o quanto você era cômica...)

Eu esperava que a conhecida, que reclamava da falta dos óculos, tivesse vendo mais com os olhos da alma... aquela troca que a gente faz com a maturidade...

Já na festa, duas senhoras, vestidas com longos vermelhos, tentavam ser discretas ao colocar doces em sacos plásticos. O erro? Usar saco plástico enquanto o mundo todo usa eco bag. Até porque, roubar doce, todo mundo rouba, né?!!!

domingo, 11 de setembro de 2011

Domingo é dia de quê???


Hoje acordei cedo. Visita à minha casa nova, que já está quase pronta... Bermuda branca, blusinha linda e limpa, rabo de cavalo, sandalhinha rasteira, pulseiras da moda, óculos escuros e biscoitos na bolsa.

Minha mãe: - Vai arrumada desse jeito para a obra?
Eu: - Vou, porque depois a gente vai almoçar fora e posso encontrar alguém conhecido...
Ela: - E você não vai brincar com os cachorros?
Eu: Vou!!!!
Ela: Vai se sujar toda!
Eu: Não. Eu dou um jeitinho...
Ela: Vai sentar no chão?
Eu: - Não. Sentar no chão, não!!!

Ao chegar na casa nova,  esqueci da produção...
Eu e ela no chão, cachorro no colo, biscoitos e beijos dados. Suficiente? Não. Então, abraços, mordidas, lambidas, patadas, risadas...
Depois, correndo ao vento, a produção toda voou... Bermuda quase preta, pés cinzentos, cabelos desalinhados...

De saída para o almoço, empinando o bumbum, pergunto à mamãe:
- A bermuda tá suja?
Ela, depois de gargalhar: E o alguém conhecido, se estiver lá?
Eu: Se eu estou tão feliz, será que alguém vai notar?

Então no domingo, se você me encontrar, fiquei logo sabendo: é tanta felicidade que nem dá pra se arrumar!!!!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A fonte da liga



Eu ando procurando a fonte da liga que existe em mim. Depois que eu achar, ainda tenho que esvaziar o estoque, que, devido ao tempo de produção, deve estar enorme.

É um tal de me espera, me dá, me liga, me aguarda (- Me larga!)
É tanto me ama, me ensina, me ampara, me ouve (- Me poupe!)
... e me acolhe, me explica, me escreve, me empresta, me atende, me entende...que não tem fim.

- Socorro, Jesus, tira essa liga que existe em mim!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sai da frente que eu sou redonda...



O mundo quer encaixotar a gente.  Uma caixa dentro da outra, que vai dentro de outra e outra e outra... Depois? E depois, põe tudo dentro de um saco e dá um nó. Se a gente não tiver cuidado, fica quadrado que dá dó.

Tem gente que tem o formato que o mundo dá. Fica quadrado, cheio de quina que até pinica ao encostar. Vive acuado, não sai do lugar... se perde dentro da própria caixa, pequena e devagar.

Tem gente que não rola com a vida. Daí, pra mudar de posição, precisa de empurrão e nem assim sai do lugar. Vive cheia de lados... Dá uma virada, mostra cinco, esconde um. Faz um segredo danado, mas quando vira o quadrado... é plano pra todo lado.

O diabo, é que quando eu vou bolando, redonda e sem canto, empaco num quadrado que ainda vem me perguntar: Será que eu não tô sacando que a moda é empacar?!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Mora uma bruxinha em mim...

 ...e ela tem uma bolha espacial enooorme, que ocupa quase toda a casa!
As bruxas?!? Geralmente retratadas como mulheres velhas, narigudas e com verrugas. Manipuladoras, geniosas, atrevidas e donas de gargalhadas marcantes, elas adoram vassouras e gatos. São fãs de caldeirões e temperos e das noites de lua cheia. Voam e adoram a cor preta.

Aos 14 anos, ganhei um cravo na ponta do nariz que mais parece uma verruga. Foi quando comecei a desconfiar da nova inquilina. Até hoje, nos dias de TPM, o cravo desponta. É como a força das bruxas durante a lua cheia. As vezes ele dói. É pra me lembrar que está lá.
Um dia, depois de adulta, minha dermatologista indicou um cirurgião plástico para arrancar de mim o sinal de identidade. Eu me senti ofendida. Não quero que minha bruxinha vá embora. Eu gosto do meu cravo-verruga!
Também durante a adolescência, meu nariz começou a crescer e inchar. Era a bruxinha trazendo mais uma mala para a nova morada. Nessa época fiquei preocupada. Era muito nariz pra pouca cara. Hormônios mais calmos, o nariz desinchou, mas continuou grande para garantir minha permanência no grupo das mulheres atrevidas.
Depois dos 16 e durante ainda alguns anos, a bruxinha fez pouco barulho. Talvez tivesse medo de arrastar móveis e fazer mudanças na casa. Eu gosto de imaginar que ela gastou seu tempo cozinhando, entretida com os caldeirões e temperos. Seguindo receitas e criando muito pouco.
Até que um dia, cansada de ver tudo sempre igual, a bruxinha decidiu pegar sua vassoura. Fez faxina na casa velha e viagens noite a fora. (Vassoura tem muita serventia!) As noites de lua cheia mostraram-se repletas de possibilidades até então desconhecidas. Foi então que a bruxinha fez um caderno novo, com receitas de sua própria autoria, e adotou uma gata que não era preta. (Pra ser diferente, porque bruxa nenhuma gosta de ser comum.)
A bruxa castrou a gata. Por que ao se tratar de castrações (quaisquer que sejam elas), antes na gata do que nela.
A bruxa também começou a manipular, porque descobriu que as manipulações não são de todo ruim. Ela também se assumiu geniosa e se permitiu gargalhar cada vez mais alto. Do jeito próprio que as bruxas fazem.
Hoje a bruxa faz faxina todo dia, arrasta móveis, troca móveis... adotou mais gatos e sai a noite com ração, caçando miados famintos. A bruxa usa preto. Para o dia e para a noite. (Porque bruxa que é bruxa usa preto e fica linda!) Sim, e ela agora está ocupando a casa toda. É uma casa grande e que cresce cada dia mais.
A bruxa quer espaço e por isso vai pondo pra fora de casa alguns outros moradores que não tem mais vida. A primeira a cair fora foi uma princesa com roupa mofada, uma moça muito sem graça. Graças a Deus a bruxa é boa gente e facilita minha vida. Vocês devem concordar: o que é que eu tenho de princesa? Nem o pé, que é 37!!!